A Comunidade Quilombola da Aldeia, localizada em Garopaba, Santa Catarina, foi o foco de um estudo etnobotânico que revelou a rica relação entre os moradores e as plantas locais. Entre as figuras centrais desse estudo estava Dona Adelaide, uma benzedeira altamente respeitada, conhecida por seu profundo conhecimento sobre plantas medicinais e práticas de cura tradicionais.
Entre 2013 e 2014, as pesquisadoras Júlia Ávila, Kênia Maria de Oliveira Valadares e Sofia Zank, do Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) realizaram pesquisas de mestrado e doutorado na Aldeia. O objetivo foi documentar o vasto conhecimento dos quilombolas sobre a flora local e a importância dessas plantas para a saúde e cultura da comunidade. As pesquisas identificaram 236 espécies de plantas, das quais 90% eram usadas ativamente pelos moradores.
Dona Adelaide desempenhou um papel crucial na manutenção e transmissão desse conhecimento. Ela era reconhecida por sua habilidade em utilizar plantas medicinais para tratar diversos males, como dores de barriga, gripe e resfriados. Seu trabalho não só ajudava na cura física, mas também fortalecia a identidade cultural quilombola, através de práticas tradicionais que incluíam rezas, banhos de ervas e defumações.
A pesquisa também destacou a importância dos quintais quilombolas, que abrigavam uma grande diversidade de plantas alimentícias e medicinais. Plantas como mandioca, banana, couve e hortelã eram cultivadas e trocadas entre os moradores, mantendo viva uma prática de agricultura sustentável e valorizando o conhecimento ancestral.
Dona Adelaide faleceu aos 100 anos de idade no dia 4 de julho de 2024, mas seu legado continuará vivo na comunidade. Seu vasto conhecimento sobre plantas e sua habilidade como benzedeira permanecem como um símbolo essencial na preservação das tradições da Aldeia.
O estudo está disponível em pdf para download neste link.