quinta-feira, 19 setembro 2024
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Opinião

Debora Rodrigues

Abandono e Irresponsabilidade: Quando a falta de Castração vira Problema de Todos

Foto: Chris F

Por Debora Rodrigues

Colunista de opinião sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade em Garopaba.sc

Nos últimos dias, um caso chamou a atenção no Campo Duna, onde uma fêmea no cio, cercada por machos não castrados, expôs uma realidade triste e recorrente em Garopaba: a negligência com a castração de animais. Apesar das diversas denúncias recebidas pela Associação Protetora dos Animais de Garopaba (APAG), a tutora da fêmea não quer castrá-la e foi notificada pela prefeitura de Garopaba nesta terça-feira (13). Ela alegou que o animal não é dela, que apenas acolheu a cadela porque foi abandonada.

Este caso ocorre poucos meses após um esforço significativo da comunidade de Garopaba para mudar essa realidade. Em junho deste ano, tivemos um mutirão de castração gratuito que conseguiu atender mais de 500 animais, uma ação essencial para conter a superpopulação de cães e gatos e, consequentemente, reduzir o número de animais abandonados. No entanto, a persistência de casos como o do Campo D’una demonstra que ainda há muito a ser feito para conscientizar a população sobre a importância dessa medida.

Essa negligência não se restringe apenas à falta de castração. Na semana passada, um caso de abandono chocou os moradores do bairro Areias de Palhocinha, onde uma cadela foi deixada em um canteiro de obras junto com seus filhotes recém-nascidos. Desde então, a APAG tem se desdobrado para cuidar e alimentar a mãe e seus filhotes, mas enfrenta agora um desafio urgente: encontrar adoções responsáveis para esses animais, que estão crescendo rapidamente e necessitam de lares definitivos.

A APAG frequentemente recebe relatos de pessoas que abandonam seus animais ao menor sinal de problema, ou que se recusam a tomar as medidas necessárias para garantir o bem-estar dos seus pets, como a castração. Muitas vezes, esses tutores justificam sua omissão com desculpas frágeis, como a crença de que apenas fêmeas precisam ser castradas ou que seus animais têm o “direito” de passear livremente pelas ruas, sem considerar as consequências disso para a comunidade.

É preciso compreender que a castração não é apenas uma medida preventiva para evitar crias indesejadas, mas também um ato fundamental de cuidado com a saúde do animal. Ela previne doenças, reduz comportamentos agressivos e diminui o risco de abandono. O argumento de que machos não engravidam, por exemplo, ignora completamente o fato de que eles podem contribuir para a superpopulação de animais, resultando em mais filhotes que, na maioria das vezes, acabam sem um lar, perambulando pelas ruas.

Além disso, o abandono é uma realidade que está diretamente ligada à irresponsabilidade dos tutores. Adotar um animal é um compromisso que vai muito além do encantamento inicial com um filhote. Requer responsabilidade e dedicação ao longo da vida do animal. Quando esse compromisso é ignorado, o resultado é um aumento do número de animais abandonados, muitos dos quais acabam sofrendo ou morrendo nas ruas.

A APAG e outras organizações de proteção animal enfrentam diariamente os desafios impostos pela irresponsabilidade de tutores que não reconhecem seus deveres. Muitos procuram ajuda apenas quando a situação sai do controle, frequentemente alegando que o pet não é seu, em uma tentativa de se esquivar da responsabilidade. Esse tipo de comportamento só agrava o problema e sobrecarrega as instituições que, mesmo com recursos limitados, tentam mitigar o impacto dessa negligência.

Portanto, é hora de questionar: até quando vamos tratar nossos pets como mercadorias descartáveis? Até quando vamos ignorar a importância da castração e adotar a prática de negligenciar aqueles que dependem de nós para sua sobrevivência e bem-estar? A castração não é apenas uma questão de controle populacional, mas de saúde e responsabilidade social. Cada animal adotado deve ser visto como um ser vivo que merece respeito, cuidado e, acima de tudo, um compromisso de vida inteira por parte de seus tutores.

O mutirão de castração em junho mostrou que, quando a comunidade se mobiliza, é possível fazer a diferença. Mas precisamos de mais. Precisamos de uma mudança de mentalidade, onde a responsabilidade com os animais de estimação seja uma prioridade para todos. Somente assim poderemos construir uma sociedade mais justa e compassiva para com todos os seres vivos.

Colunista de opinião sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade em Garopaba.sc

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