Uma série de vídeos publicados pela presidente do Conselho Escolar Deliberativo do CEI Francisco Domingos Pacheco, Sara Cardoso, gerou ampla repercussão nesta quarta-feira (4) em Garopaba. As declarações foram feitas em seu perfil pessoal no Instagram na terça-feira (3) e abordaram, inicialmente, a falta de profissionais na unidade de ensino localizada no bairro Encantada. No entanto, as falas acabaram gerando críticas por parte de pais, profissionais e entidades, que apontaram conteúdos capacitistas e preconceituosos.
Sara Cardoso iniciou os vídeos relatando problemas na creche municipal, como a escassez de professores, a ausência de educadores especializados para crianças autistas e a sobrecarga dos dois cozinheiros responsáveis por mais de 200 alunos. Ela criticou ainda a maneira como os pais lidam com as restrições alimentares dos filhos, chamando de “falta de noção” o envio de orientações específicas para a merenda escolar.
Assista ao vídeo com a fala de Sara Cardoso no Instagram
Críticas a diagnósticos e à alimentação infantil
Sara afirmou que há “falta de bom senso” por parte das famílias ao enviarem orientações específicas sobre a alimentação das crianças, mencionando que apenas dois cozinheiros são responsáveis por preparar a merenda para mais de 200 alunos. “É muito fácil dizer: ‘ah, mas dois cozinheiros para 200 crianças’, vai lá cozinhar”, disse. Ela também ironizou as restrições alimentares: “Um tem tolerância à lactose, o outro ao ovo, outro ao trigo…”.
Em tom crítico, a presidente mencionou comportamentos infantis associados a transtornos como autismo, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e TOD (Transtorno Opositivo Desafiador), colocando em dúvida os diagnósticos e sugerindo que seriam reflexo de criação inadequada.
“Hoje em dia é mais fácil diagnosticar doença para tudo. Meu filho tem TOD, TED, alguma coisa assim. Tudo é doença. Ai, meu filho é arteiro, então é doente. Meu filho é seletivo, não come comida misturada. A culpa é do teu filho ou é tua?”, questionou.
Em outro trecho, declarou: “Estamos criando um bando de retardados”.
Em outro trecho, a conselheira disse: “Meu filho não fala, não olha no olho, faz isso, faz aquilo, então é autista? Vou começar a internar essas mães, porque a doença está nelas”. Em seguida, completou: “A justiça foi dando tanta liberdade que eu estou até com nojo. Tudo tem direito”.
Repercussão das falas na comunidade
As publicações rapidamente se espalharam por grupos de WhatsApp e redes sociais, gerando indignação entre familiares de alunos e representantes da comunidade escolar. Muitas das reações acusaram Sara de desrespeito e desinformação, especialmente em relação aos direitos de crianças com deficiência ou com transtornos de neurodesenvolvimento.
Na tarde de quarta-feira (4), Sara publicou uma nota de esclarecimento reconhecendo que pode não ter se expressado da melhor maneira. Segundo ela, o objetivo era chamar atenção para os desafios enfrentados na rotina da creche. “Jamais tive a intenção de ofender qualquer criança — seja atípica ou não —, seus pais ou os profissionais da educação”, afirmou.
Fala sobre autismo é alvo de repúdio
A organização AGIR para Cidadania divulgou, também na quarta-feira (4), uma nota de repúdio às declarações, classificando-as como capacitistas. O texto destaca que o conteúdo divulgado prejudica o processo de inclusão e agrava o sofrimento de famílias que lutam por condições dignas de educação e saúde para seus filhos. A entidade solicitou que as autoridades competentes adotem providências diante das declarações.
Posicionamento técnico de especialista em saúde
A terapeuta ocupacional Taís Scalzilli se posicionou publicamente em vídeo publicado em seu perfil nas redes sociais. No conteúdo, a profissional explicou que autismo e TDAH não são doenças, mas transtornos do neurodesenvolvimento.
Ela defendeu que restrições alimentares e seletividade não devem ser tratadas como birra ou exagero, e sim como questões que exigem respeito e abordagem técnica adequada. “O preconceito não pode ser normalizado, principalmente por representantes de instituições voltadas à infância”, declarou.
Reunião extraordinária é convocada pelo Conselho Escolar
Em resposta à situação, a vice-presidente do Conselho Escolar Deliberativo, Samara Natália Antônio, convocou uma reunião extraordinária. O encontro está marcado para esta quinta-feira (5), às 18h, na sala dos professores da própria unidade escolar CEI Francisco Domingos Pacheco, com objetivo de discutir as consequências das declarações e possíveis encaminhamentos.