Uma pesquisa científica conduzida pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no âmbito do Projeto Raízes da Cooperação, revelou que mais de 62% das áreas urbanas de Tijucas a Garopaba estão sob risco de inundações costeiras até 2050. O estudo utiliza dados de projeções da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) e da NASA, analisando os impactos do aumento do nível do mar e de eventos climáticos extremos na região da Grande Florianópolis.
Elevação do nível do mar e áreas em risco
A pesquisa de pós-doutorado realizada pelo geógrafo Luiz Pimenta, estima que o nível do mar na costa de Santa Catarina poderá subir entre 0,25 e 0,30 metros até 2050. Esse aumento, de acordo com os modelos utilizados, intensificará as inundações costeiras, afetando áreas urbanas e costeiras com maior frequência e severidade. Cidades como Garopaba, Palhoça e São José estão entre as mais vulneráveis, com grande parte de seus territórios situados em planícies costeiras, que são especialmente suscetíveis às marés altas e tempestades.
O mapeamento da Região Hidrográfica Litoral Centro, que abrange uma área de 5.299 km², identificou que 18,66% do território está exposto a inundações graduais e bruscas. Para as áreas urbanas, o percentual é ainda mais alarmante: 62,30% estão sob risco elevado de serem afetadas por inundações até 2050. Esse cenário é agravado pela ocupação urbana desordenada e pela falta de medidas de mitigação em muitas áreas vulneráveis.
Planícies costeiras e riscos climáticos
A pesquisa destaca que as planícies costeiras, áreas particularmente sensíveis, enfrentarão os maiores impactos. Essas regiões, que abrangem 978 km², terão mais de 76% de sua área em risco de inundações, especialmente devido a eventos climáticos extremos, como tempestades combinadas com as marés de sizígia. O estudo aponta que, dentro dessas áreas, 40,51% estarão mais propensas a sofrer com a elevação das marés e a maior amplitude de inundações nos próximos anos.
As planícies costeiras de Garopaba e de outras cidades da região foram consideradas áreas críticas para a conservação, com cotas de inundação que podem chegar a até 5 metros em situações de risco extremo. Segundo o estudo, essas áreas devem ser priorizadas em iniciativas de conservação e recuperação ambiental.
Conservação e áreas prioritárias
Além de mapear as áreas em risco, a pesquisa identificou 276,78 km² como prioritários para a reabilitação de ecossistemas, como manguezais e restingas, fundamentais para amortecer os efeitos das inundações. Esses ecossistemas desempenham um papel crucial na proteção contra a elevação do nível do mar e na preservação da biodiversidade costeira.
Atualmente, cerca de 21,6% dessas áreas já estão urbanizadas, o que torna urgente a adoção de medidas de preservação e recuperação. A restauração de manguezais e áreas de transição é apontada como uma estratégia essencial para mitigar os impactos das inundações e aumentar a resiliência das comunidades locais.
O Projeto Raízes da Cooperação
O Projeto Raízes da Cooperação, responsável por essa pesquisa, é executado pela Ação Nascente Maquiné (Anama) em parceria com a Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental. O projeto tem como objetivo promover a conservação e a restauração de manguezais e ecossistemas costeiros na Grande Florianópolis, que inclui algumas das áreas mais vulneráveis de Santa Catarina.
O projeto abrange três Unidades de Conservação: o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, a Reserva Extrativista do Pirajubaé e a Estação Ecológica Carijós, além da Terra Indígena Morro dos Cavalos. Essas áreas protegidas são de extrema importância para a preservação da biodiversidade e a proteção de comunidades tradicionais, como os Mbya Guarani e pescadores artesanais, que dependem diretamente desses ecossistemas.
A pesquisa reforça a necessidade de ações urgentes para mitigar os impactos das inundações costeiras na Grande Florianópolis, com destaque para a conservação e reabilitação de áreas naturais como manguezais. Com mais de 62% das áreas urbanas sob risco, as cidades de Tijucas a Garopaba devem adotar medidas preventivas e sustentáveis para enfrentar os desafios impostos pela elevação do nível do mar e as mudanças climáticas nos próximos anos.