quarta-feira, 4 dezembro 2024
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Opinião

Paulo Junqueira

Transparência ou Encobrimento: o que está em Jogo na Política de Garopaba?

Foto: Markus Winkler

Por Paulo Junqueira

Sou colunista de opinião do Garopaba.sc, escrevendo sobre política, economia e opinião pública.

A CPI que investiga as obras realizadas pela empresa Israel Gonçalves Eireli em Garopaba se tornou um palco de disputas políticas e narrativas conflitantes. Em vez de esclarecer os fatos, a comissão parece estar envolta em uma batalha entre aqueles que tentam proteger interesses e os que buscam, de fato, a verdade. No centro desse embate estão dois grupos: de um lado, vereadores que buscam a verdade e, do outro, os que defendem a gestão atual a todo custo. Não estou aqui para acusar ou defender ninguém, mas para trazer à reflexão os acontecimentos das sessões e questionar: por que, quando se fala tanto em transparência, o medo da verdade parece prevalecer?

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) é uma ferramenta poderosa do Legislativo para investigar suspeitas de irregularidades, corrupção ou má gestão pública. É uma oportunidade para trazer à luz aquilo que está obscuro, com o poder de convocar testemunhas, requisitar documentos e buscar a verdade em benefício da sociedade. Em Garopaba, a CPI busca investigar as supostas irregularidades nas obras do Garopaba Pronto Atendimento (GPA), mas o que se vê nas sessões são discursos evasivos e atitudes que mais confundem do que esclarecem.

Desde o início, ficou evidente que a CPI está dividida entre dois lados. De um lado, vereadores que buscam a verdade, insistindo em perguntas concretas e aprofundando as investigações mesmo diante das resistências. Esses vereadores têm mostrado compromisso com a apuração dos fatos, enfrentando os obstáculos e mantendo o foco nas respostas que a população espera. Do outro lado, estão os que defendem a atual gestão, questionando constantemente os procedimentos da comissão e tentando desqualificar as investigações. O contraste entre as duas posturas revela um embate que vai além dos fatos em si, destacando as diferentes prioridades dentro da CPI: proteger aliados políticos ou expor a verdade?

O discurso do prefeito: uma defesa convincente?

A recente Operação Maestro, que cumpriu mandados de busca e apreensão em Garopaba, trouxe à tona questões sobre a transparência da gestão municipal. Em resposta, o prefeito Junior de Abreu Bento se posicionou defendendo que as críticas e investigações não consideram o esforço e a complexidade envolvida na execução das obras do GPA. Ele destacou que a obra passou por várias adaptações desde seu projeto original, e que o trabalho exigiu dedicação intensa de sua gestão, lamentando que muitos não reconheçam o valor dessa realização.

No entanto, o discurso do prefeito levanta dúvidas. Ele fala sobre dedicação e trabalho, mas evita responder diretamente sobre a legalidade dos processos envolvidos. Ao enfatizar apenas os benefícios da obra, deixa de abordar de forma clara as suspeitas levantadas pela operação policial e pela CPI. Transparência vai além de destacar o resultado final de um projeto; é sobre expor as etapas que levaram até ali e permitir que sejam avaliadas à luz do interesse público.

Entre a busca pela verdade e a obstrução

Os vereadores que buscam a verdade insistem em perguntas que abordam a execução dos contratos, o cumprimento das normas e a transparência do processo licitatório, pressionando os depoentes a fornecerem respostas detalhadas. Essa abordagem evidencia um compromisso com o esclarecimento dos fatos, mesmo diante das constantes tentativas de desviar o foco.

Por outro lado, os vereadores que defendem a gestão frequentemente apresentam questionamentos que parecem destinados a cumprir apenas um papel formal. Perguntas simplistas, como se atos ilícitos foram cometidos, dão a impressão de que o foco é apenas cumprir um protocolo, sem realmente investigar. Essas atitudes, somadas às tentativas de desqualificar os trabalhos da CPI, minam a credibilidade das sessões e sugerem que a prioridade não é apurar, mas proteger aliados.

Os vereadores comprometidos com a apuração enfrentam um cenário de desafios constantes. A CPI deveria ser um espaço para o esclarecimento, onde as evidências são analisadas de forma justa e transparente. Porém, com parte da comissão buscando desviar a atenção para temas secundários, como o abandono do GPA por gestões passadas, o verdadeiro propósito da investigação fica em segundo plano.

O papel do eleitor em exigir transparência

Estamos na reta final de uma eleição crucial para Garopaba. No próximo dia 6 de outubro, a população decidirá quem será o próximo prefeito e vice-prefeito. As investigações da CPI e a recente Operação Maestro colocam a transparência da atual gestão no centro do debate. Se houver irregularidades nas obras do GPA, isso impactará diretamente a candidatura à reeleição de Junior e Guto. Para o eleitor, é fundamental questionar: estamos recebendo todas as respostas ou apenas parte delas?

O discurso de defesa da gestão, a postura defensiva dos aliados na CPI e as declarações superficiais sobre a transparência das obras do GPA deixam brechas que precisam ser preenchidas com fatos. O eleitor tem o papel de exigir clareza e não aceitar meias respostas. Transparência verdadeira é dar acesso total, sem medo, sem desvio de foco, e com a disposição de permitir que cada detalhe seja examinado.

A condução desta CPI é um reflexo de como a política local se comporta quando colocada diante de um teste de integridade. A busca pela verdade deveria ser um compromisso coletivo, não um campo de batalhas políticas. As tentativas de desviar a atenção, o discurso emocional sem respostas objetivas e a resistência em colaborar com as investigações mostram que há muito mais em jogo do que a execução de uma obra pública.

O futuro de Garopaba depende de um eleitorado atento e exigente. Cabe a cada cidadão refletir sobre o que realmente está acontecendo: será que a verdade está sendo revelada ou apenas encoberta por um discurso conveniente? Em vez de temer a CPI, a administração e seus aliados deveriam abraçar a oportunidade de provar a transparência de suas ações. No final das contas, a democracia e a confiança pública são os maiores valores que devem ser preservados — e isso começa com a coragem de enfrentar a verdade, doa a quem doer.

Sou colunista de opinião do Garopaba.sc, escrevendo sobre política, economia e opinião pública.

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